dipo rei
dipo no tinha complexo de dipo. Sfocles escreveu sua pea clssica, dipo Rei, mais de dois mil anos antes de Freud ter batizado o tal complexo com o nome do protagonista. E nem mesmo retroativamente o pobre dipo pode ser acusado disso, j que desconhecia estar matando o pai, Laio, ou freqentando a cama da me, Jocasta. Infelizmente, muitos ainda acham estranho saber que dipo no tinha complexo de dipo e continuam associando a tragdia mais a Freud que a Sfocles.
O orculo diz a Laio, rei de Tebas, que ele ser assassinado pelo prprio filho. Para evitar o terrvel acontecimento, Laio amarra o beb, fere-o e deixa-o para morrer nas montanhas, devorado pelos lobos. Mas a criana salva por um pastor e adotada pelo rei de Corinto. Depois de crescido, dipo ouve do orculo que matar seu prprio pai e se casar com a me. Fugindo do destino e acreditando ser filho do rei de Corinto, dipo deixa a cidade e vai para Tebas. No caminho, encontra Laio e acaba matando-o numa briga. Seguindo sua viagem, dipo desvenda o enigma da Esfinge, um monstro que atormentava a vida de Tebas. Como recompensa, colocado no trono da cidade e casa-se com a rainha Jocasta, viva de Laio. Cerca de dez anos depois, quando uma praga comea a devastar a regio, o orculo (sempre ele) preconiza que as coisas melhoraro quando o assassino de Laio for expulso da cidade. dipo, rei zeloso, toma em suas prprias mos a misso de descobrir o criminoso.
dipo Rei pode ser considerada a primeira histria de detetives, j que seu protagonista tem um problema policial a ser resolvido atravs de uma investigao. E o desfecho de fazer inveja a Conan Doyle ou a Agatha Christie: o detetive, sem saber, o prprio assassino!
Quando descobre a verdade, que assassinou o pai e casou-se com a me, dipo horroriza-se e fura os prprios olhos. A interpretao desta cegueira voluntria tem sido discutida h sculos. Se dipo era feliz quando "no via" a realidade, imaginando-se um afortunado rei, bem casado, pai de quatro filhos, quando na verdade era um parricida incestuoso, seria a cegueira uma tentativa inconsciente de voltar a um estado de "no-ver" e, portanto, de felicidade?
dipo Rei uma histria fascinante, sempre atual. at estranho que, nos nossos dias de violncia cinematogrfica, ainda no tenham colocado dipo nas telas. Regicdio, parricdio, incesto, auto-mutilao, suicdio... Algum se habilita? Quentin Tarantino? Oliver Stone? David Lynch?