panic room
azer um filme todo dentro de um ambiente fechado um desafio que fascina vrios tipos de cineastas, de Alfred Hitchcock e seu Rope a Woody Allen e seu September. Agora a vez de David Fincher, autor de Se7en e Fight Club, se exercitar no gnero com Panic Room (EUA, 2002).
Meg Altman (Jodie Foster, de Taxi Driver e Contact), separada h pouco do marido (Patrick Bauchau), muda-se com a filha adolescente (Kristen Stewart) para uma pequena manso neoiorquina, com direito a aposentos espaosos, escadarias, elevador, teto de vidro e, claro, um quarto projetado para resistir a qualquer eventualidade, de terremotos a terroristas. E, como em toda boa obra de fico, quando se antecipa uma eventualidade, ela acontece. Neste caso, na forma de um trio heterogneo de ladres determinados a s sair de l com o suado butim. Burnham (Forest Whitaker, de Ghost Dog: The Way of the Samurai) o ladro bonzinho, ladeado pelos bem menos sociveis Raoul (Dwight Yoakam) e Junior (Jared Leto). Os trs, inadvertidamente, vo acionar os instintos dormentes da dona-de-casa acuada.
Se em The Game Fincher contou de maneira simples uma histria cheia de reviravoltas, em Panic Room ele se dedica a contar uma histria simples de forma astuciosamente elaborada. Com exceo das cenas inicial e final, que servem de parnteses visuais, todo o filme se passa dentro da casa. A trama quase banal: duas mulheres trancadas no quarto do ttulo sem querer sair, trs homens do lado de fora querendo entrar. O surpreendente que o diretor consegue manter a narrativa interessante por quase duas horas, usando uma decupagem clssica e movimentos de cmara mirabolantes (alguns com auxlio discreto de efeitos de ps-produo digital).
O espectro de Hitchcock parece assombrar a casa. Algumas cenas de suspense so construdas seguindo as regras ditadas pelo mestre, enquanto a parfrase invertida de Rear Window d um toque ironicamente retr avanada tecnologia de vigilncia do quarto fechado. O painel com vrios monitores de televiso mostrando imagens das cmaras espalhadas pela casa funciona como uma coleo de janelas indiscretas viradas do avesso, revelando as entranhas da manso em vez da vida dos vizinhos. Nesse sentido, Panic Room se mostra perfeitamente encaixado nos dias de hoje: estamos cada vez mais interessados em ficar em casa e olhar para dentro.