media
edia um dos personagens mais interessantes da mitologia grega clssica, e j inspirou muitas peas de teatro, de Eurpides (Media) a Bellini (Norma), entre muitos outros.
Media, filha do rei da Clquida, surge inicialmente como herona movida pelo amor, ajudando Jaso, lder dos argonautas, a se apoderar do famoso velo de ouro.
Mas mesmo como aliada do heri, seus mtodos j deveriam ter sido suficientes para levantar algumas suspeitas. Para retardar os seus perseguidores, chefiados pelo pai, Media vai cortando pedaos do prprio irmo e atirando ao mar. Ao chegarem em Iolcos, Media salva Jaso mais uma vez, agora matando o tio do heri, que tentava roubar o velo de ouro. O casal apaixonado tem que fugir ento para Corinto.
Jaso, subestimando a fria de Media, resolve abandon-la para casar com Glauce, filha do rei de Corinto. A vingana terrvel comea pela rival. Media envia-lhe um vestido envenenado, que acaba causando a morte dela e do pai. No satisfeita, assassina tambm os prprios filhos, como forma de punir Jaso. E este, claro, tampouco escapa: por obra de Media, morre esmagado pelo navio Argos, seu companheiro em tantas aventuras. Depois de tudo isto, ela tem que fugir mais uma vez, e ruma para Atenas, onde fica sob a proteo do rei Egeu. Se voc pensa que ela sossegou, est enganado, j que mais tarde tentou envenenar seu benfeitor e teve que fugir novamente, voltando sua terra natal, Clquida.
Media, representada pela primeira vez em 431 AC, uma das mais importantes peas de Eurpides (Salamina, 480 ? Macednia, 406 AC), e a sua verso da histria ainda hoje a mais interessante verso do mito. Ao contrrio de outros gregos clssicos, Eurpides dedicou grande parte de sua obra aos personagens femininos: Fedra, Alceste, Helena, e vrias outras, so figuras fundamentais de suas peas. E Media destaca-se entre todas por seu papel independente, sua recusa em ser somente um joguete dos homens, sua insistncia em desenhar o prprio destino. Mesmo assim, trata-se de um exagero tom-la como cone do feminismo. No nos esqueamos que a Grcia de Eurpides no somente reservava de forma geral um papel secundrio s mulheres, mas tambm possuia um teatro onde s aos homens era permitido subir ao palco (os papis femininos eram tambm representados por homens). No por acaso que Media, a mais voluntariosa das mulheres to teatro grego clssico, uma arquivil.
Eurpides introduziu vrias inovaes na tragdia grega clssica (personagens do povo em papis importantes, princpios de anlise psicolgica, abordagem de questes filosficas), mas em seu tempo foi um incompreendido. Talvez por sua escolha de temas, ou mais provavelmente pelo tratamento dado a eles (como disse Sfocles, Eurpides mostrava as pessoas como elas eram, no como deveriam ser), suas tragdias raras vezes tiveram a recepo merecida. Aristfanes e outros cmicos tinham nele sua vtima preferida, e no eram poucas as histrias satirizando Eurpides. Foi trado pela esposa. Seus amigos foram exilados. Finalmente, foi a vez do prprio Eurpides deixar Atenas. Refugiado na Macednia, no viveu muito mais, perecendo num acidente em que foi atacado pelos ces do rei.