trs cubos
m cubo. Seis lados. Em cada lado, uma porta. Cada porta abrindo-se para outro cubo idntico ao primeiro. Neste labirinto de cubos, seis personagens perdidos, tentando entender a geometria e a geografia do local. Seis personagens em busca de uma sada. Para complicar, alguns dos cubos ocultam armadilhas fatais. Mas a maior armadilha pode ser a prpria convivncia dos participantes deste teste de sobrevivncia. Esta a premissa de Cube (Canad, 1997), dirigido por Vincenzo Natali.
Os personagens parecem ter, primeira vista, funo simblica. So seis, o mesmo nmero de faces do cubo. Todos vestem uniformes iguais, com etiquetas de identificao. Possuem nomes que so referncias a prises famosas: Quentin (San Quentin, nos EUA), Kazan (na Rssia), Rennes (na Frana), Holloway (na Inglaterra), Alderson (nos EUA), Leaven e Worth (somando os dois nomes temos Leavenworth, nos EUA). Suas habilidades complementam-se para formar uma equipe: um policial, uma mdica, um arquiteto, uma estudante de matemtica, um especialista em fugir de prises e um deficiente mental. Mas, assim como no cubo-labirinto nem tudo o que parece, tambm os personagens de Cube tm suas surpresas. O heri pode se revelar algo bem diferente, o peso morto pode surpreender com ajuda vital, a grande esperana pode ter vida curta.
Um dos encantos do filme o mistrio da origem do cubo-labirinto. Os prprios personagens sugerem teorias: conspirao governamental, delrio de um super-vilo, experincia de extraterrestres, as hipteses so to variadas como sem fundamento em evidncias. S se sabe que o perigo real e que a nica chance de sobrevivncia est em encontrar a sada. Para aumentar a sensao de urgncia, alm da fome e da sede, rudos estranhos os perseguem, como se fosse o ronco da barriga da baleia que os engoliu ou o minotauro guardio do labirinto se aproximando.
Cube foi filmado com poucos recursos e algumas idias engenhosas. O cenrio, por exemplo, um nico cubo, que muda de aparncia graas troca de cor nos painis que formam suas paredes, dando a impresso de que o labirinto realmente formado por centenas de cubos (sero 676 cubos mesmo ou estariam errados os clculos dos personagens em cima dos nmeros em cada cubo, que teoricamente indicariam a posio inicial, a permutao de posies e a localizao das armadilhas?).
O sucesso de Cube permitiu a produo de duas continuaes, formando uma trilogia de cubos. Nenhuma delas, porm, conseguiu atingir a mesma simplicidade e eficincia do original. Cube 2: Hypercube (Canad, 2002), de Andrzej Sekula, apresenta idias bem diferentes: o cubo agora branco e brilhante, todas as salas so iguais, o nmero de personagens aumenta significativamente, ningum mais veste uniformes de prisioneiro e o figurino variado, as funes mecnicas do cubo so substitudas por efeitos que s existem no campo da fsica terica. Mas a maior diferena talvez seja a tentativa de explicar o que realmente est acontecendo e quem est por trs da existncia dos cubos-labirintos. A explicao ao mesmo tempo insuficiente e desnecessria, e o melhor do filme fica por conta das distores de espao e de tempo que geram imagens com ecos de M.C. Escher. Cube Zero (Canad, 2004), de Ernie Barbarash, tenta conciliar os dois filmes anteriores, recuperando e amplificando o aspecto industrial retr do original (o cubo novamente uma estrutura mecnica e metlica, ainda com menos cores que no primeiro filme) e explorando a questo de quem controla o cubo e quais suas razes (com cenas exteriores que lembram pesadelos de Kafka e Orwell). Mas mesmo este cenrio de uma grande estrutura burocrtica controlando e observando os cubonautas no to forte como o silncio inexplicvel do Cube original. Como disse Worth, sentindo-se impotente dentro da priso sem sentido do primeiro filme: "No h conspirao. Ningum est no comando. s uma confuso acfala operando sob a iluso de um plano-mestre. O Grande Irmo no est te observando."