pseudnimos coletivos - parte 2
Maxwell Grant e Kenneth Robeson
Ellery Queen no foi o nico pseudnimo coletivo usado numa srie de aventuras populares. A editora Street & Smith Publications criou o nome Maxwell Grant para assinar as histrias do Sombra (The Shadow), o heri misterioso dos anos trinta. O autor que mais usou este pseudnimo foi seu prprio criador, Walter B. Gibson (1897-1985), escrevendo cerca de trezentas histrias. Os outros escritores por trs de Maxwell Grant foram Theodore Tinsley, Bruce Elliotte Dennis Lynds.
Outro pseudnimo coletivo usado na Street & Smith, desta vez para as igualmente populares histrias de Doc Savage, foi Kenneth Robeson. Assim como ocorreu com The Shadow, houve um s escritor responsvel pela maior parte das centenas de histrias, Lester Dent (1904-1959), e vrios outros contribuindo com um nmero bem menor, como por exemplo Harold Davis e Lawrence Donovan.
Dixon, Keene e Appleton
A editora Stratemeyer Syndicate tambm apostou fortemente nos pseudnimos coletivos para suas sries de literatura infanto-juvenil. Alm de simplificar as coisas para os leitores (uma srie, um autor) tambm criava uma estrutura garantindo todos os direitos autorais para a editora (muitos escritores eram inclusive obrigados por contrato a manter em segredo que eram os verdadeiros autores das obras).
Entre as sries de maior sucesso da Stratemeyer estavam: The Hardy Boys, assinada por Franklin W. Dixon, e por trs do pseudnimo o autor mais prolfico foi Leslie McFarlane (1902-1977); Nancy Drew, assinada por Carolyn Keene, e por trs do psednimo escreveram, entre outros, Mildred Benson (1905-2002), Harriet Adams (1893-1982, filha de Stratemeyer), e mais uma vez Leslie McFarlane; e Tom Swift, assinada por Victor Appleton, e por trs do pseudnimo o nome mais conhecido foi o de Howard Roger Garis (18731962), famoso pela srie infantil Uncle Wiggly, histria de um coelho cavalheiro.
Eando e Kozma
Frederick Dannay e Manfred B. Lee, criadores de Ellery Queen, eram primos. Mas vrios irmos tambm usaram pseudnimos coletivos. Um dos mais famosos foi Eando Binder, autor de fico-cientfica que no incio dos anos quarenta publicou na revista Amazing Stories as aventuras do rob herico Adam Link. Earl Andrew Binder (1904-1965) e Otto Oscar Binder (1911-1975) no precisaram pensar muito para criar o pseudnimo: Eando simplesmente a soma de suas iniciais (E and O).
Quase um sculo antes, do outro lado do planeta, os irmos Zhemchuzhnikov (Alexander, Alexei e Vladimir) reuniam-se ao escritor Aleksey Konstantinovich Tolstoy (no confundir com Aleksey Nikolayevich Tolstoy, autor de fico-cientfica, ou com Leo Tolstoy, o mais famoso dos Tolstoys escritores) e criavam o autor fictcio Kozma Prutkov. Por trs deste pseudnimo coletivo, entre 1850 e 1860, publicaram tudo que no se atreveriam a assinar com seus prprios nomes, de versos erticos a crticas satricas ao imperador Nicolau I da Rssia.
Cantsin, Blisset e Ming
Usar um pseudnimo coletivo pode significar mais que simplesmente esconder a identidade do autor. Em alguns casos, passa a ser uma postura artstico-poltica. Um bom exemplo disto a persona fictcia Monty Cantsin, criada no final dos anos setenta como "open pop star", um nome para ser usado por diversos artistas que, com cada obra, moldariam um personagem-autor. Monty Cantsin teve trabalhos criados por Maris Kundzins, Istvan Kantor, David Zack, e outros artistas ligados ao Neoismo, movimento artstico experimental do fim dos anos setenta e incio dos oitenta. Existem vrias verses sobre a possvel origem do nome, as mais populares apontando para o trocadilho "Monty can't sing" ("Monty no sabe cantar"). Monty Cantsin pode ser hoje somente uma referncia obscura, mas a idia serviu de inspirao para outros grupos e acabou dando origem a dois pseudnimos coletivos ainda muito usados.
Luther Blissett , como explica o manifesto que leva seu nome e explica sua gnese (The Luther Blisset Manifesto), no a identidade de um grupo de trabalho mas um mltiplo nico, existindo no vrios Luther Blissetts e sim somente o Luther Blissett, uma possibilidade de escapar do conceito convencional de identidade e de autoria. O nome (tomado emprestado de um jogador de futebol jamaicano que nos anos oitenta jogou, entre outras equipes, pelo Watford da Inglaterra e pelo Milan da Itlia) apareceu assinando vrios livros nos anos noventa, como Mind Invaders, Green Apocalypse e Anarchist Integralism.
Alguns escritores italianos que assinaram como Luther Blissett o romance Q, publicado em 2000, rebatizaram-se depois com o pseudnimo coletivo Wu Ming (em chins, annimo). Apesar de seus nomes no serem segredo (Roberto Bui, Giovanni Cattabriga, Luca Di Meo, Giovanni Cattabriga e Riccardo Pedrini), preferem continuar identificando-se somente como Wu Ming 1, Wu Ming 2, e assim por diante. J publicaram vrios livros em diversos idiomas, geralmente disponveis gratuitamente com licena copyleft, entre eles 54, Esta revolucin no tiene rostro e Hatchets of War.
Nicolas Bourbaki
Para terminar, e para mostrar que no somente na literatura germinam os pseudnimos coletivos, vale citar Nicolas Bourbaki. Em 1934, um grupo de professores de matemtica, todos formados na cole Normale Suprieure de Paris, se reuniu com o objetivo de escrever um novo programa de ensino para substituir o livro tradicionalmente usado por todos, o Trait d'Analyse de Goursat. Preferindo o anonimato, resolveram assinar seus trabalhos com o nome Nicolas Bourbaki, possivelmente uma homenagem ao general francs Charles Bourbaki, de origem grega (assim como a matemtica euclideana).
O projeto acabou por se estender por dcadas e gerou vrios volumes de teoria matemtica (Thorie des ensembles, Algbre, Topologie gnrale, etc), que causaram alguma comoo nos meios acadmicos na poca da publicao, principalmente por causa da proposta de extremo rigor e abstrao. Em 1948 comeou em Paris uma srie de palestras chamada Sminaire Nicolas Bourbaki, que continuam a ser apresentadas todos os anos.